sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Comida e Sociedade

COMIDA E ANTROPOLOGIA: UMA BREVE REVISÃO

Sidney W. Mintz


“Dificilmente outro comportamento atrai tão rapidamente a atenção de um estranho como a maneira que se come: o quê, onde, como e com que freqüência comemos, e como nos sentimos em relação à comida”. É bem diferente pensar assim, pois é algo que fazemos automaticamente. Um exemplo é que sempre depois de almoçar, me dá sono, e quando não durmo o resto do dia não rende, não consigo ter o mesmo rendimento. Vi uma vez no globo repórter um lugar em Minas Gerais, onde o povoado fechava o comércio das 11 às 14 horas para o almoço, e depois de almoçarem era sagrado uma hora de sono. É algo que me chamou a atenção ao mencionar o modo que sentimos em relação à comida.
“[...] O comportamento comparado relativo à comida tenha sempre nos interessado e documentado a grande diversidade social. [...]”. Esse interesse se dá porque tem aumentado a preocupação das pessoas em relação à saúde alimentar, devido o surgimento de alguns problemas e como alguns alimentos podem trazer resultados positivos e outros negativos para a saúde. Também essa diversidade tem se interagido.
“[...] A prosperidade nos leva a esquecer o quanto a fome pode ser impositiva, mas mesmo nesses períodos os hábitos alimentares continuam sendo veículos de profunda emoção. [...]”. Infelizmente nem todos tem esta prosperidade. Uma vez assisti a um documentário sobre “A Ilha das Flores”, que não passava de uma ilha onde as pessoas para não morrerem de fome, se submetiam a pegar restos da lavagem dos porcos, e o dia que não tinha, faziam sopa com papelão. Isto me marcou muito, pois mostrava bem o que era estragado para uns era comida para outros. Também assisti algumas entrevistas feitas com jornalistas que estiveram no Haiti, os quais falaram que para os haitianos matar a fome, faziam bolachas de barro (terra) para saciá-la, da briga pela comida, do saqueamento de água potável. Então realmente para quem vive e passa por essa situação sabe o quanto a fome é impositiva.
“[...] o que aprendemos sobre comida está inserido em um corpo substantivo de materiais culturais historicamente derivados. [...]”. Faz que a diversidade, que comidas tradicionais, hábitos não se percam, e sim dê continuidade. Muitas culturas perderam sua origem que foram substituídas por outro hábitos de alimentação.
“[...] O comportamento relativo à comida revela repetidamente a cultura em que cada um está inserido. [...] Os hábitos alimentares podem mudar inteiramente quando crescemos, [...]”. Quando entramos em contato com outras culturas, nos apropriamos de algumas coisas, e com isso pode ocorrer perdas nos hábitos já adquiridos, ainda que não são esquecidos.
“[...] Nossos corpos podem ser considerados o resultado, o produto de nosso caráter, que por sua vez, é revelado pela maneira como comemos”. Dá para se tirar das pessoas da África, o resultado da vida o qual levam.
“[...] a cultura é o modo como as pessoas se relacionam mutuamente estabelecendo relações com seus materiais culturais. (Vroeber 1948)”. A comida faz parte dessa cultura, do cotidiano do ser humano.
“[...] a comida e sua preparação fossem vistas como trabalho de mulher, e a maioria dos antropólogos fosse composta por homens; [...]”. Muitas coisas mudaram depois que a mulher conquistou seu espaço no mercado de trabalho, ocorrendo assim à preparação da comida por ambos os sexos, tanto os homens quanto as mulheres, e a divisão do trabalho dentro do lar.
“[...] Tantas pessoas no mundo inteiro não mais produzem o que consomem ou consomem o que produzem, [...]”. È válido lembrar que muitos não produzem e nem consomem, vivem na miséria.
“[...] como alimentar pessoas, e como fazer dinheiro alimentando-as. [...]”. Algo que sempre vai dar dinheiro para as industrias alimentícias, e o Brasil é um produtor forte em alimentos para exportação devido o clima a qual se tem que favorece para isto.
“A defesa econômica da produção local de arroz está de acordo com as concepções míticas e românticas que cercam esse alimento - símbolo chave do espírito japonês – de tal modo que esse livro é quase uma leitura do caráter nacional através do estudo de um único alimento”. O arroz de certo modo concretiza a cultura japonesa, assim como o feijão e o arroz aqui no Brasil e outros tipos de alimentos concretizando modos de culturas de outros países. “A tortilha no México, é um outro exemplo em que um produto passa a ser símbolo poderoso de identidade nacional, [...]”.Fico pensando no caso do Brasil que tem grande diversidade de comidas, devido sua grande extensão e diversidade de colonização que ocorreram, e que conservam ou pelo menos tentam suas comidas típicas que varia de região para região.
“[...] a comida serve de portadora de significado na medida em que velho e novo, urbano e rural, masculino e feminino, índio e não-índio, são socialmente conjugados”. Com toda certeza a comida é simbólica assim como muitos outros elementos culturais.
“Graças à associação das mulheres com a comida e com a cozinha, e dos homens com a caça e a política, desenvolveu-se uma importante literatura dedicada à comida, e ao gênero. Parte dela trata da relação entre a comida e a imagem do corpo; outros tratam da relação entre domesticidade e liberação das mulheres; outros ainda, das ligações entre comida e auto-identificação com o gênero. [...]”.
Hoje vejo que isso já não é tão válido, pois o cozinhar ainda que tenha uma relação com a mulher, tem sido praticado pelos homens, devido à entrada da mulher no mercado de trabalho, como já foi dito antes.
“[...] Uma vez mais, o novo e o tradicional se revelam em complexa interação”. O tradicional é insubstituível, porém abre espaço para o que é novo. Um exemplo disso, é que não deixo de comer arroz e feijão nos finais de semana, porém acompanhado do macarrão ou algum prato feito com massa, que sabemos que é tradicional dos italianos. Por isso tem como estar experimentando coisas novas sem ter que abrir mão do alimento tradicional, que no meu caso é o de rotina.
“[...] Não dei atenção a substâncias expansivas da consciência nem ao canibalismo; [...]”. Me fez lembrar do filme “A Estrada”, onde a falta de comida transformaram os hábitos alimentares do ser humano, passando a caçar pessoas para comer e assim não morrer de fome, é sim para se pensar nessas possibilidades, o homem é capaz de tudo para não morrer de fome.
“[...] O deslocamento de pessoas e alimentos, a separação crescente de produtores e consumidores, a disposição cada vez maior em consumir alimentos preparados, o declínio da habilidade culinária das classes médias e outras tendências, particularmente no chamado mundo desenvolvido, [...]”. Alguns hábitos alimentares se dividem e separam em classes e em poder aquisitivo, tornando certas comidas de classe alta e outras de classe baixa. Também como o capitalismo e o surgimento das classes, houve a distancia das mulheres de classe média da culinária e a aproximação das mulheres de classe baixa na culinária. A fartura e prosperidade econômica em alguns países fizeram com que trouxessem alguns problemas de saúde, obrigando assim que os hábitos alimentares fossem mudados por questão de saúde.
“[...] Tão poucos de nós tiveram de enfrentar pessoalmente uma real escassez de dinheiro ou material - escassez que afetasse pessoalmente nossas oportunidades de comer em excesso [...]”. Foi esta fartura que trouxe alguns problemas para alguns países desenvolvidos, como é o caso da obesidade. Também discordo quando falam que não tivemos falta de dinheiro ou material, acho que muitos sofrem com isso principalmente nos países em desenvolvimento, essa escassez existe e afeta sim as classes baixas.
“Milhões de pessoas ainda sofrem de desnutrição crônica, mas esses autores afirmam que a situação alimentar do mundo está melhor hoje do que nunca, e talvez estejam certos. [...]”. Penso que mesmo olhando de uma forma geral, não devemos ignorar que morrem muitas pessoas por dia de fome. O que acontece é que estatisticamente a média populacional faz com que o resultado saia desproporcional, pois uma parte pequena da população ganha muito bem e o restante muito mal, ou nada, e quando somam e dividem acabam generalizando como que se todos ganhassem razoável o que se torna uma mentira. Por isso a situação pode estar pior do que pensamos e que ironicamente ouvimos em melhoras na alimentação, esta é uma das lógicas que mostra que os resultados que são mostrados não são confiáveis.
“[...] As colorias ditam a escolha do alimento rural porque as pessoas precisam de todas as calorias que puderem obter. Mas com maiores rendimentos e menor produção física, como acontece em muitas cidades; os consumidores urbanos começam a procurar uma maior variedade”. Digo que não é só a escolha, mas também a quantidade é maior de alimentos para quem é do campo. Quando mudam para a cidade a queda de alimentação e peso é brusca, pois já fui da roça, morava no sítio e pesava 45 kg, perdi peso muito rápido ao mudar para a cidade, perdendo de 6 a 7kg, a vida na cidade é muito diferente, até o ar.
“[...] Nos países desenvolvidos, obesidade, problemas circulatórios e cardíacos e muitos outros males são atribuídos a uma dieta que, ao longo do tempo, parece infelizmente ser a mesma aspirada nos países mais pobres, e que muitas vezes é alcançada nos países em desenvolvimento”. É complicado, afinal, ser pobre nessas circunstâncias não é tão ruim, pois a prosperidade pode trazer alguns males e a pobreza alguns benefícios que é não comer excessivamente, estar no seu limite. Aqui se comparar a comida do rico com a do pobre, elas se igualam.
“[...] grupos de privilegiados de assalariados e empresários chineses comecem a comer em massa pela primeira vez o que a classe média dos Estados Unidos acredita ser uma dieta excessivamente rica, gordurosa e abundante em proteínas. [...]”. Para mim há uma inversão de hábitos.
“Comidas cotidianas, prosaicas, que tendemos a considerar comum, escondem histórias sociais e econômicas complexas. O lugar da proteína vegetal no futuro do mundo pode se tornar um problema político de primeira ordem. [...]”. Realmente a comida pode trazer sérios problemas com sua falta, pois ela é imperativa e pode transformar a vida, o perfil e as atitudes do ser humano, por isso que tem sim que haver uma preocupação sim nessa parte.
Enfim, a comida ela é simbólica, esta inserida na cultura que faz parte da sociedade que depende dela para sobreviver.

Nome: Lucinéia da Silva Batista
Curso: Arquivologia 2° Ano

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