segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Janaina Bibliotecomia

A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução
Walter Benjamin



As obras de arte têm um valor inigualável para a sociedade, porque mais do que o valor monetário em si, ela revela e registra características da época em que foi produzida ou reproduzida. Carrega significados implícitos ou explícitos, que também alimentam a imaginação das pessoas em suas diversas formas de manifestação: música, quadros, teatro, cinema ou produtos de bem comum.
A pintura é um dos campos das obras de arte em geral que exige o perfeccionismo nos detalhes de cada espaço mínimo da tela, e são poucas pinceladas que revelam ou escondem o olhar necessário para o despertar das idéias expostas ali.
Quantos mitos ainda existem sobre a “Monalisa” de Leonardo da Vinci, talvez se houvessem alguns esclarecimentos ao longo da história essa obra não seria devidamente uma “obra de arte”; e Da Vinci não seria tão famoso assim.
Os homens sempre tiveram a necessidade de fazer ou reproduzir o que já foi feito por outros homens, desde os primórdios ele manifesta suas vontades para que possa ser visto, e assim propositalmente ou não, ser copiado por terceiros, seja nas pinturas rupestres, seja no seu meio social.
Assim surgem as técnicas de reprodução do que se deseja copiar, que estão também em todos os tipos de manifestações artísticas: arquitetura, escultura, fotografia, cinema etc. Elas podem ser aproveitadas para bens lucrativos, ou para utilização social de fato, como diversos casos ao longo da história. Mas essas técnicas de reprodução trazem um olhar diferenciado das obras originais, pois ao se reproduzir qualquer material a sua autenticidade é ferida.
Com o avanço das tecnologias em todas as áreas do conhecimento a “reprodução” e suas “técnicas”, substituíram o verdadeiro “eu” do artista, e a pessoa que manipula esses meios ocupa o lugar de autor delas. Antigamente os grandes mestres reproduziam as produções artísticas com a intenção de disseminá-las,para que todos pudessem interagir e refletir sobre ela. Mas com o passar do tempo esse fato mudou de caminho e surgiram os “falsários”, que inventavam técnicas de reprodução a fim de extrair vantagens materiais sobre elas.
Esses falsários da Antiguidade estão presentes até hoje na sociedade, e ao longo da história causaram prejuízos aos tantos patrimônios históricos deixados por artistas em todos os campos artísticos. As boas intenções de reprodução para disseminação artística foram deixadas de lado a partir do momento em que o homem mais uma vez se torna o dono da situação. As vantagens de usar técnicas e aumentar a quantidade de uma mesma obra virou negócio na sociedade contemporânea. E esse tipo de ação se espalhou de tal forma, que não apenas as obras de arte foram atingidas, mas também todos os outros produtos da sociedade como cds, produtos de beleza, calçados, roupas e eletros eletrônicos dos mais difíceis de imaginar.
“A falsificação de tantos produtos de bem comum virou negócio para o homem do século XXI, que ganhou até linguagem própria para denominação do mercado de produtos não tão originais assim como: “pirataria”; “paraguaishan”; “do chinês”; “dublado”;” de segunda”. E fugiu do controle de tal maneira que verdadeiros centros de comercialização de produtos copiados do original foram surgindo para atender tanta demanda.
Um exemplo é a rua 25 de março no centro da cidade de São Paulo; um verdadeiro paraíso da pirataria “legal” no país. Onde são vendidos todos os produtos que se pode imaginar e também obras alteradas, movimentando um mercado com muito lucro aos falsificadores que compram deles.
Assim como a rua 25 de março muitos outros centros comerciais existem por aí, em todo lugar se tem uma barraquinha, vendendo a cópia do último dvd ou cd, que foi lançado; e já virou um lucro muito grande desenvolver técnicas de reprodução, para oferecer as pessoas o “parecido”, ou aquele “quase igual” ao original. Esse sucesso todo se deve ao fato de que não são todos que podem ter determinada obra para si, e tem raízes nas questões políticas, econômicas e sociais de cada época.
A indústria do cinema é uma das mais atingidas, pois virou atividade normal para as pessoas conseguir os filmes do mercado em qualquer esquina por aí. Nesse caso todos os direitos são feridos devido á péssima técnica de reprodução que é aplicada para copiar o filme original e as pessoas vêem tudo, menos as cenas verdadeiras em si. Recentemente houve um grande recorde de pirataria da sétima arte, com o filme Tropa de Elite do diretor José Padilha, filmado em 2007, que ganhou o título demais pirateado do cinema brasileiro. Os autores são com certeza os mais atingidos,pois nenhum artista gosta de ver sua invenção sendo desvalorizada de tal forma. Com essas técnicas muito da subjetividade do autor se perde e a sua produção acaba tendo um outro caminho e impacto ao público consumidor.
As mensagens que chegam até as pessoas são totalmente outras e dependendo de qual técnica de reprodução foi usada se perde praticamente toda qualidade e intenção de seu produtor. Também existem pessoas que desenvolvem técnicas tão bem apuradas, que conseguem passar despercebidas, mas é impossível não haver alguma ausência a partir do momento que alguma forma de reprodução é posta em prática. Em todos os campos ocorre essa situação uns com, mas sutileza, outros com menos, dependendo do material que está sendo modificado.
Também existem técnicas de reprodução que tiveram pontos positivos dependendo de sua análise, como a fotografia e o cinema; meios legais de tentar passar para as pessoas como as obras de arte estão sendo retratadas por seus autores, com a melhor intenção possível.
Nesses casos por melhores intenções que existam, jamais será possível as pessoas observadoras desfrutarem do fato real que está sendo retratado, pois o ambiente não é o mesmo e as sensações produzidas no espectador são pobres de sentidos como tato, olfato, paladar; embora trabalhem para entrar nessa “aura”. Também não entenderão qual a intenção do autor naquele momento, naquele dia.
O século XX proporcionou um avanço nas tecnologias em todas as áreas do conhecimento humano, e isso permitiu o surgimento de técnicas d reprodução tão avançadas a ponto de elas mesmas tornarem-se a obra de arte. Ou seja, a subjetividade tornou o caminho inverso e a autenticidade está no jeito e não na “obra crua” em si.
Por mais bem intencionadas, as obras vítimas de tantas técnicas, deixam um vazio as pessoas; pois hoje existe uma sociedade que não conhece o “original”, o “primeiro”. Em todos os meios e materiais consumidos há uma transformação vinda de tais técnicas. Os artistas deixaram de ter o seu valor real e as pessoas estão muito longe de conviver com o que existe de real de fato; vivemos numa sociedade alienada, vítimas conformadas das tantas técnicas de reprodução totalmente defeituosas.

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