segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Janaina Biblioteconomia

Politicamente Incorreto ( Sócrates e a contra cultura socrática)/Ken Goffman (R.U. Sirius) e Dan Joy
O autor faz uma comparação entre Sócrates e o movimento da Contracultura que trouxe aspectos um tanto quanto parecidos como as idéias desse filósofo, que morreu por incentivar o questionamento das coisas, do mundo em que vivia; alguns “pensadores” como ele surgem no decorrer da História tentando trazer o raciocínio como questão cotidiana e é claro, não conseguem exercer completamente seu ideal, seja por injustiças ou por desinteresse dos que se negam a receber esses ensinamentos.
A vida é movida por conquistas que tem de ser construídas constantemente para poder ter algum sentido, pois ela espelha os verdadeiros significados do ser humano. Sócrates, ao observar esse fato instala nos seus seguidores a curiosidade pela constante busca por respostas do mundo ao seu redor. Os questionamentos não eram apenas científicos, sobre o ambiente, mas também sobre os elementos dos indivíduos que interagiam naquele ambiente.
Hoje, as pessoas não têm esse hábito e pior, quase ninguém para despertar essas instigações sobre o por que das coisas. A sociedade não tem paciência nem de lidar com a fase dos “por quês” das crianças. São reprimidas antes mesmo de tentar desenvolver seus primeiros questionamentos sobre a vida em que está começando a se descobrir. A tentativa de fazer os adultos dar mais atenção aos pequenos questionadores, foi adaptado para um programa infantil da TV Cultura chamado Castelo-Rá-Tim-Bum, em que um menino de aproximadamente sete anos é o menor do grupo de amigos, e justamente por isso toda hora pergunta sobre o porquê das coisas, e quando obtêm respostas pergunta o porquê daquela resposta. Assim, desafia constantemente a solução que lhe é dada para sua curiosidade do momento, e quando todos encerram seu questionamento dizendo “Porque sim Zequinha!”, aparece um terceiro personagem com a resposta que ele estava atrás de fato. Talvez as idéias de questionamento de tudo estejam aí, no simples fato de não aceitar a imposição das coisas, que não atendam as expectativas do mundo de uma criança.
A humildade para exercer a função de enxergar além de seu tempo, foi um fato relevante para alguém que realmente despertava a curiosidade nas pessoas. Porque ele como um líder, que aflorou muitos pensamentos ao se negar registrar seus ideais mostra que não têm objetivos nem interesses próprios, como o de doutrinar as pessoas para junto de si, e designar ações em seu nome. O conhecimento permite essa possibilidade e quantos líderes da história já usaram de seu próprio conhecimento intelectual para tirar vantagens e explorar o próximo.
A oportunidade de conhecer os dois lados da moeda do conhecimento é muito importante, a partir da exposição de todos os fatos o indivíduo vai conseguir encontrar qual caminho seguir, pois alguma coisa lhe despertará para essa escolha; caso contrário a imposição dos objetos, das leituras, das ações, vão ser pré-apresentadas e causará influência na escolha das suas respostas. Então novos conhecimentos não serão descobertos, e haverá uma reprodução das repostas não produzindo nada de novo para a vida das pessoas.
A quantidade de conhecimento produzido e disponível atualmente da mesma maneira que oferece a possibilidade de uma grande quantidade de escolhas, também proporciona a perda no meio de tanta informação; seja pela decepção das respostas através da verdade, seja pelo fato de não encontrar ainda as respostas procuradas, mesmo depois de tantos caminhos á seguir. O equilíbrio do conhecimento também tem que ser trabalhado para haver solução na busca por respostas sobre as coisas da vida, a que Sócrates tanto insistiu que as pessoas fossem atrás.
O fato de se “ir para um lugar onde não se assassinassem pessoas por fazerem perguntas”, imortalizou esse outro lugar também, pois a escolha desse caminho é questionada até hoje sobre como será esse outro lado. A alma, e o outro lado da vida após a morte, só é cultuada em algumas religiões que tentam encontrar respostas sobre o que não conseguiram nesse plano, se as pessoas tivessem curiosidade sobre o mundo atual, talvez as coisas fossem um pouco mais diferente, e o conhecimento teria um outro sentido. Até na hora de sua morte Sócrates quis instigar as pessoas sobre a disposição das “coisas da vida”, do mundo terreno.
A construção de novos pensamentos em conjunto, propostos por ele, a incessante busca do novo apenas pelo simples e grandioso fato de encontrar a resposta para si, e em si, sem nada em troca, não foi cultivado pelos anos seguintes. A construção do pensamento em busca da verdade é um exercício para poucos.
Um exemplo disso são algumas religiões que sempre cobram algo em troca para apresentar uma solução aos males da vida. E assim geram verdadeiras indústrias paralelas do saber material, espiritual, que ilumina a vida do homem e fogem totalmente das regras e ideais de seus fundadores, que na maioria das vezes talvez fossem mais um Sócrates de seu tempo, oferecendo uma opção de reflexão pelos seus dogmas e não vendendo os caminhos que estão todos os dias na vida do homem.
Os intelectuais que adotaram e tentaram instalar o espírito instigador nas pessoas são conhecidos como da Contracultura, pois idealizaram o questionamento de todos de seu tempo, as regras apresentadas para a sociedade vigente, e conseqüentemente impostas para as pessoas que fazem parte dela. Sócrates tinha a mesma idéia, de fazer as pessoas encontrarem cada vez mais respostas através das constantes perguntas, a respeito do meio em que viviam, pois não conheciam outra realidade que não fosse aquela.
Todos esses questionamentos despertaram uma vontade em alguns grupos, ou pessoas que enxergaram um sentido para tentar fazer outros despertarem também para as coisas de seu tempo. Os livres pensadores que possuem um nível de intelecto maior, em se tratando do pensamento acadêmico questionam ou questionaram os ensinamentos medíocres da sociedade e tentaram fazer alguma coisa pelo resto do povo.
Hoje, todos de fato têm a máxima liberdade de pensar o que bem quer, e absorver para si o que escolher. Mas esses heróis da pátria surgem em épocas de total repressão de costumes e pensamentos impostos por uma elite dominadora. Levantam bandeiras de liberdade ao povo contra a opressão e etc, tudo em prol da liberdade de pensamento e escolhas autônomas. Esses pensadores livres podem ser comparados aos universitários, que estão em um espaço de reflexão e questionamento das ciências em vigor, tem como função adotá-la e inová-la em prol do surgimento de novas idéias na área em que estudam. Mas a elite intelectual do Brasil não está tão disposta a tal desafio, como a de antigamente, pois a Universidade hoje se tornou espaço de aprendizagem pra o mercado de trabalho e não de discussões para a inovação cientifica; são poucos que pensam em mudar alguma coisa. E os que querem financiar alguma coisa também, pois o incentivo e apoio á pesquisa é muito pouco por parte do governo.
O problema de defasagem na educação aparece desde o ensino infantil, pois um povo conscientizado e questionador de seu tempo, é perigoso; portanto é de interesse dos governantes que haja uma satisfação das pessoas em relação as regras vigentes de seus mandatos, nem que seja na base dos programas de auxílio como o Bolsa Família, Leve Leite e outras políticas do Pão e Circo, com funções amenizantes, que distraíam a população, enquanto os senados agem na calada do noite.
Sócrates em seu tempo chama a atenção pela sua ousadia de oferecer algo que desperte a curiosidade das coisas sobre outras coisas, e é claro começa a perturbar a dita democracia da época. Porque assim o cidadão enxerga o outro lado da sociedade. A informação é um instrumento perigoso, que destrói e constrói o mundo, e mais responsável ainda é o condutor dela.
Nesse sentido os revolucionários da Contracultura se preocuparam em oferecer e instigar os menos favorecidos á lutar por ela, pois junto viria a total liberdade de expressão e busca de ensinamentos novos, contra os ideais da época. Também há o lado de rejeição pelas próprias pessoas que não se sentem representadas pelos lutadores da liberdade, porque na maioria das vezes as pessoas que pregam todo esse acesso ao conhecimento e questões humanas, nunca passaram por nenhuma dessas privações que defendem. Isso é uma contradição com seus próprios conhecimentos e ideais.
A constante busca de Sócrates de passar suas idéias para as pessoas, a ponto dele mesmo se declarando apolítico, entrar para a aristocracia só para mostrar as pessoas que essa mesma democracia libertária era também elitista e escondia muitas coisas que não podia estar sob as vontades do povo, demonstra um idealismo muito exagerado de realmente querer ajudá-los sem nada em troca. E de um sonho, por sinal muito generoso.
Algo parecido aconteceu no governo Lula, pois nosso Presidente da República lutou anos de sua vida e implantou sentimentos de questionamento como líder sindical nos companheiros de trabalho, que o fizeram liderar grandes greves sindicais que entraram pra história do país, numa época de total repressão política. E após anos de luta se canditada aos cargos políticos ao lado de uma elite repressora, principal culpada pelas mazelas do povo, é eleito para a presidência da república, com a proposta de governar para o povo e transformar a vida dessas pessoas através da informação.
Hoje as pessoas têm total liberdade de questionar o mundo, as coisas, as crenças, o Universo, tudo ao seu redor. Todos os ideais que levaram muitos anos de luta pra ser de direito do povo, foram descartados e jogados no lixo, porque poucos têm essa consciência da eterna busca de respostas pra satisfazer suas necessidades. A geração de hoje aceita as coisas prontas e em silêncio, inclusive até a própria comida que já vêm cozida e é só esquentar pra poder comer.
Essa esquerda que gastou todas as energias em prol do desenvolvimento de liberdade do indivíduo, e até de ferramentas que promovam a possibilidade de acessar novas culturas de aprendizagem, também se perdeu, pois o público faz uso errado delas principalmente na era da internet e sites de relacionamento, já houveram casos até de crimes que ferem os direitos humanos; o questionamento e oportunidade de intercâmbio de dados não aconteceu como o sonhado.
Essa idéia e liberdade têm que ser orientada, e não imposta, pois as ferramentas disponíveis, são inventadas a partir do ser humano, com propósitos de melhoria para suas vidas. Mas não basta apenas oferecer á elas, sem dizer-lhes qual o propósito que se designa. (faço uma pausa pra mostrar como isso pode ser bom e ao mesmo tempo desastroso na vida das pessoas; quando fazia cursinho o professor contou sobre um trabalho que ele fez em uma comunidade muito pobre do nordeste brasileiro sobre educação sexual. Levou os métodos contraceptivos para instruir as pessoas e mostrar como eles são introduzidos no nosso corpo antes do ato sexual em si, como não tinha muitos recursos pegou como exemplo uma vassoura que estava atrás da porta e deu o exemplo de como se coloca um preservativo masculino. Pois o objetivo era de ensinar que existiam alternativas seguras para o sexo, a maioria das pessoas que estavam ali nunca nem tinham houvido falar em “métodos contraceptivos”. Então voltou ali alguns meses depois para avaliar o resultado, e seu expanto foi maior ainda quando uma senhora que tinha assistido essa palestra chegou até ele e disse que tinha sido enganada , por ele pois ela tinha colocado o preservativo num cabo de vassoura como ele tinha feito antes da relação sexual e tinha engravidado do mesmo jeito!). Ou seja, essa liberdade todo também tem um preço que pode sim ser controlado pelo homem, através do poder da palavra.
A plena liberdade em todos os campos da sociedade, ao invés de questionar levou os jovens a se distanciar de sua própria cultura, a adaptar hábitos e ouvir músicas incompreensíveis, que são impostos por uma indústria da mídia que detêm todos os meios de comunicação, comerciais com o interesse do lucro, ao instaurar o desejo de consumo por uma coisa nova, de outro lugar, não do seu. E as pessoas estão cada vez mais acreditando nisso e criando uma cultura de consumidora e não produtora de novos conhecimentos. O que se é mais escutado no Brasil, por exemplo, Jackson do Pandeiro ou a estrela Lady Gaga?
Sócrates jamais imaginaria que suas propostas poderiam chegar até esses pontos citados acima. O seu ideal de perguntas e mais perguntas para se chegar as próprias satisfações, tem como conseqüência o instrumento mais valioso do ser humano, que é a informação, através dela pode-se transformar o mundo, pro bem ou pro mal. A responsabilidade e o desafio do profissional da informação é justamente essa, apresentar as pessoas menos favorecidas a informação para elas mesmas tirarem suas conclusões e desenvolver suas perguntas a respeito do meio em que vivem; e orientar da melhor forma possível aos instruídos, para haver um aproveitamento produtivo das mesmas, tudo com a devida ética que lhe é designada.

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