segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A VIDA SOCIAL DAS COISAS: roupas, memória, dor (postado por Roberta Barganian - 3° biblio)

Meu amigo Chulepa!
Chulepa, este é o seu nome, meu amigo inseparável. Lembro-me bem que com dezesseis anos nunca fui tão chantageada para deixá-lo, já namorava e havia ficado noiva, todos na minha casa diziam: - que vergonha você já é uma mulher, já vai se casar e dorme com o chulepa! Para mim nunca foi vergonha alguma, sempre gostei do meu chulepa, amarelinho, sujinho, com o passar dos anos pequenino, velhinho, remendadinho, mas era meu amigo, só meu! Dormir sem ele jamais, para ser lavado eram necessárias muitas conversas para me convencer, não o perdia de vista, do tanque para o varal e do varal direto para meus braços, incansáveis de esticar para ver se já estava seco. Nada substituía o meu chulepa, objetos eram agregados ao meu berço e depois a minha cama, vários chupetas que eu adorava também, cachorro de pelúcia, bonecas, ursos, mas nem pensar em tirar o meu chulepa! Por volta dos meus vinte e cinco anos aposentei o meu amigo, com muito pesar, pois mais algumas dormidas e lavadas ele não iria suportar, hoje o guardo em um saco plástico como a minha relíquia, o meu chulepa, sei que existe e está guardado! Lógico que sinto saudade do seu cheiro, do seu toque, ficar enrolada nele, me sentia tão protegida ao seu lado. Nossa às vezes imagino que se ele pudesse falar quantas coisas ele poderia revelar a meu respeito, meu amigo inseparável de todas as horas, meu aconchego, meu pequeno grande amigo, hoje guardado, mas jamais esquecido. Minha história é incomum, acredito, mas quis contá-la porque mesmo tendo preferências por roupas e acessórios na minha infância o meu maior apego e minha louca paixão sempre foi pelo meu adorável Chulepa, um cobertor amarelo para recém nascidos que ganhei de meus avôs antes mesmo de nascer, imaginem nem havia nascido e ele já estava lá, lindo, fofinho, quentinho, pronto para embalar o meu sono por muitos e muitos anos, o primeiro cobertor, “a gente nunca esquece!”

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