segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Janaina Biblioteconomia

Texto: Comida e Antropologia/Sidney W.Mintz

O Artigo apresenta as várias visões de se avaliar o “ato de comer” e suas conseqüências para a sociedade, como a comida e todos os alimentos consumidos pelas diversas populações influenciam no seu cotidiano social, educacional e econômico. Cada tempo e cada povo utilizam e refletem seus hábitos alimentares de maneiras extremamente particulares, mas com influências notáveis também. E elas, não são coincidências de nosso tempo, têm razões históricas para existir.
Pensando na necessidade de se alimentar diariamente para o bom funcionamento do organismo do ser humano, as comidas em circulação oferecem um grande leque de variedades, a escolha fica a critério do próprio consumidor, e é esse individuo que ilustra o quadro dos hábitos alimentares das populações.
Muitos fatores são relevantes quando se falam em alimentos, comidas variadas, principalmente os culturais, pois eles influenciam diretamente nos “pratos” das pessoas. O Mundo Contemporâneo trouxe consigo grandes avanços mas também retrocessos cruéis para o ser humano, um desses se faz presente no modo de vida das pessoas , seus hábitos de lazer, trabalho e é claro os alimentares.
Hoje, a população mundial come de uma maneira inadequada para o bom funcionamento do corpo, muitas ilusões estão escondidas atrás de embalagens alimentícias que prometem longevidade e boa nutrição ao organismo. Quando o que se consome é justamente o sabor artificial, ao invés do consumo no tempo adequado de aproveitamento dos alimentos.
No Brasil, essa questão não é diferente e todos sofrem com essa realidade, as crianças estão sendo cada vez mais atingidas, pois a cada quatro crianças no Brasil uma está acima do peso devido aos maus hábitos alimentares. E os responsáveis por esses resultados são muitos, desde os próprios pais até as propagandas enganosas impostas pelo sistema.
As crianças mudaram radicalmente seus hábitos comportamentais nos últimos anos, não correm mais nas ruas, não soltam pipa, nem brincam de balança no parque, preferem os artifícios de lazer oferecidos pelas novas tecnologias que aparecem devido o avanço ocorrido em todas as áreas do conhecimento humano. E junto com ela vem a imobilidade do corpo, o sedentarismo profundo, pois tudo já vem pronto, a energia que se gastava para a construção do seu divertimento ou necessidade particular foi abolida. Até as festas de aniversário foram substituídas pelos buffetes prontos, onde se escolhe o espaço, os enfeites, e o bolo que não é o caseiro feito pela mamãe ou vovó que sabe disfarçar o gosto meio desagradável de alguns ingredientes saudáveis para a nossa boa nutrição.
Nas escolas particulares o número de crianças obesas é maior do que nas escolas públicas, contradição difícil de aceitar pois supostamente a condição social deveria oferecer boa qualidade na área da saúde das crianças, por poderem escolher o melhor alimento a ser ingerido. Mas também as crianças da educação pública apresentam um quadro de não obesos que podem ter ou não uma boa nutrição dependendo do caso.
Uma das tantas bandeiras levantadas na última eleição nos EUA para presidente, foi uma forte campanha liderada pela primeira dama, Michele Obama de trocar os hábitos alimentares nas escolas públicas para tentar diminuir o número de crianças obesas do país. Em compensação os fast-foods estão por toda parte e fazem os americanos ocuparem o posto de mais obesos do mundo.
Mudar os hábitos alimentares não se faz facilmente mas quando se trata das crianças ainda é mais fácil, pois ela é um indivíduo em formação e sempre vai se espelhar em alguém. Os pais têm decisão fundamental nesse processo porque são o principal espelho a ser seguido.O tempo de se alimentar e não de “lanchar” com seu filho faz toda a diferença . O adulto não deve oferecer comidas prontas que parecem trazer felicidade ao paladar da criança , mas ensinar-lhes o valor de comer, coisas que farão bem para sua saúde, e isso tem que fazer parte de uma rotina.
A família do século XXI é apressada, não tem tempo para sentar-se á mesa na hora do almoço ou jantar, mas sim comer um bom prato de fast-food pedido pelo telefone com muitos condimentos e uma boa porção de fritas acompanhadas de um refrigerante extra, ou light para alguns. Em volta dessa esfera crescem as crianças que são os futuros adolescentes obesos de amanhã.
Os hábitos das crianças se não mudados ou acostumados desde a infância , dificilmente serão mudados na juventude. A fase da adolescência também é atingida pelo aumento de peso dos adolescentes, hoje eles têm a cultura de se encontrar para comer uma pizza, tomar um choop ou ir ao cinema e se empanturrar de pipocas extremamente gordurosas com refrigerantes. Ninguém se convida para caminhar em um parque ou “ir á pé e na volta de ônibus”, os encontros sempre levam ao consumo de comidas.
Assim, conseqüentemente forma-se um círculo onde as crianças iniciam suas vidas comendo mal, crescem, viram adolescentes obesos sem um modelo estético a seguir, tornando a regressão de peso cada vez mais difícil e viram adultos com diversos problemas de saúde, o maior de todos eles é o cardiovascular, que vêm aumentando cada vez mais na população mundial. E causando um aumento também no orçamento do setor de saúde.
As exigências do mundo contemporâneo são muitas, e a alimentação é deixada de lado, pois não é considerada tão importante quanto os outros compromissos cotidianos; já é tradição “comer qualquer coisa’’ ao invés de uma pequena pausa para realmente degustar o almoço ou jantar”. O cérebro humano demora 20 minutos para processar o alimento ingerido e mandar o impulso de satisfação para o corpo. Ou seja as refeições tem se ser feitas devagar, mastigadas com cautela para o alimento ser realmente aproveitado pelo organismo. Porém são poucas as pessoas que respeitam essa receita, e assim, coisas que agridem o corpo são consumidas diariamente, pois o imediatismo dos
compromissos da sociedade não deixam espaço para nada, muito menos para pensar em alimentação saudável.
Esses alimentos são ingeridos diariamente e carregam doses extremas de açúcares, conservantes, corantes artificiais e gorduras que afetam a saúde e ficam dentro das células humanas pra sempre. È muito difícil reverter esse processo e retirar todo esse “lixo” do organismo,vence quem se conscientiza desse mal e tenta mudar a situação.A algum tempo entrou em vigor uma lei que obriga as embalagens dos alimentos a informar ao consumidor se tem ou não gordura trans na sua composição. Pois esse tipo de gordura não é diluído pelo organismo e fica nas células pra sempre. Mas e os outros tipos de gorduras e ingredientes ingeridos em excesso? Não fazem tão mal quanto?
A comida está ligada em todos os momentos da vida principalmente numa sociedade que comemora tudo “comendo alguma coisa”, se combate a ansiedade ingerindo um doce preferido, ou se alivia os sintomas da TPM comendo uma barra de chocolate.Os agentes externos também são colaboradores de uma dieta exagerada imposta todos os dias para as pessoas.De um lado a ditadura de ser magro, não ingerir calorias para seguir um padrão estético imposto de um lado da sociedade, e de outro, consumir os produtos alimentícios impostos também por outro lado da sociedade, ambos os problemas causados pela comida, seu excesso ou falta dela.
Anorexia e Obesidade caminham juntas e se tornam problemas de mesma importância para as pessoas, até quando as pessoas se perderão nesse impasse e até quando o corpo humano estará disposto em reparar às tantas agressões causadas pela ingestão, digestão ou congestão dos alimentos poderosos do século XXI? Quem sobreviver, certamente terá a resposta.
Com tantas mudanças vale a pena pensar no que se come, e não seguir um mercado alimentício que faz parte de um sistema que automaticamente vai consumindo e criando uma cultura que supera a dos antepassados, pessoas vigorosas que sabiam que o leite não vem da caixinha comprada no supermercado. A educação alimentar realmente é uma questão cultural; e com tantos caminhos, o ato de comer que é indispensável ao homem se torna também uma questão de ideologia.
Uma das tantas contradições quando se fala em comida é o estético, mas não a maneira de nutrir bem o corpo e sim seguir a imagem de magreza extrema , que é imposta pelo mercado. A partir daí, tudo gira em torno do quê se come para entrar nesse padrão, e as pessoas optam pela falta de calorias necessárias para o bom funcionamento do organismo. De um lado pessoas passam fome diariamente e até morrem devido à falta de comida e a condição de miséria e pobreza extrema que vivem; de outro, pessoas que sempre tiveram condições de se alimentar corretamente, por escolha passam fome também por um ideal a ser seguido.
A comida é um instrumento de poder para as pessoas, pois atrás do simples ato de comer, questões muito além da compreensão humana podem aparecer, cada pessoa reflete seus hábitos e com a comida não é diferente, pois “você é o que você come”. Sendo assim, muitos problemas, dilemas, tendências e novos hábitos ainda surgirão, para atormentar o homem, porque a comida sempre estará presente na vida de todos.

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