segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução (postado por Roberta Barganian - 3° biblio

Marx em sua pesquisa pôde prever o futuro do capitalismo, que só meio século depois passou a sentir seus efeitos em todas as áreas culturais. No entanto, o aspecto da arte proletária após a tomada da classe operária confirma sua posição. A dialética dessas condições está mais nítida na superestrutura do que na economia, eles renunciam muitas noções tradicionais, como: poder criativo e genialidade, e valor de eternidade e mistério, passível de justificar interpretações fascistas.
A obra de arte sempre foi alvo de reprodução por motivos diversos, no entanto, as técnicas de reprodução são um fenômeno novo. Os gregos conheciam dois processos de reprodução: a fundição e a cunhagem. Com a gravura na madeira foi possível a reprodução do desenho muito antes da imprensa. No início do século XIX a litografia marca um processo decisivo nas técnicas de reprodução por sua exatidão, reproduções em séries e produção de obras novas. Desta forma, o desenho passou a ilustrar a atualidade cotidiana sendo um colaborador da imprensa. Algumas décadas depois a fotografia viria a substituí-lo de forma que seu ritmo acelerado chegou a seguir a cadência das palavras, além disso, a mesma já continha o germe do cinema falado.
No século XX as técnicas de reprodução ganham outro aspecto, ou seja, o de modificar obras de arte do passado, mais delas próprias se imporem como formas originais de arte. A reprodução da obra de arte e a arte cinematográfica reagiram sobre as formas tradicionais de arte. Por mais perfeita que seja uma reprodução sempre falta algo em sua autenticidade que segundo Benjamin quer dizer ‘hic et nunc’, outro aspecto é que a obra de arte pode sofrer alterações de acordo com seus possuidores. De qualquer modo a obra de arte tem sido desvalorizada, o que caracteriza a autenticidade de alguma coisa é a duração material e seu poder e testemunho histórico.
Podemos recorrer à noção de aura, visto que as reproduções atingem a aura da obra de arte. Este processo tem valor de sintoma, sua significação vai além do terreno da arte. A multiplicação das cópias transforma o evento num fenômeno de massa, permitindo ao objeto reproduzido sua exibição em quaisquer circunstâncias, dando-lhe atualidade permanente. Esses dois processos conduzem a um abalo da realidade transmitida (abalo da tradição). Os movimentos de massa têm como o seu agente mais eficaz o cinema, já que não se pode apreender a significação social do cinema, por exemplo: com a evolução cinematográfica perdeu-se também a aura do ator, a introdução das palavras e novos critérios de filmagem, contrapõem-se ao cinema mudo onde sua característica marcante é a expressão corporal do ator.
Dois aspectos apontados pelo autor sobre o estudo da obra de arte na época das técnicas de reprodução,é a emancipação da obra de arte com a relação parasitária que lhe era imposta pelo seu papel ritualístico, o critério de autenticidade não é mais aplicável e sua função fica subvertida, passando a ser política. A obra de arte deixa de ser única, passa das mãos de poucos com poder aquisitivo e status social, para as mãos de muitos, a reprodução assume outro papel, o que era um ritual mágico, religioso, e belo, não é mais a questão centralizadora da obra de arte, a autenticidade torna-se o substituto do valor de culto.
A primeira técnica de reprodução revolucionária surgiu com a fotografia, no século XIX a polêmica entre os pintores e fotógrafos era quanto ao valor de a fotografia ser arte ou não, da chapa fotográfica pode-se tirar um grande número de provas, seria absurdo indagar qual delas é a autêntica, mas há de se reconhecer outros aspectos qualitativos na arte fotográfica, o culto da recordação permanece.
No teatro o ator interage diante do público sem qualquer interferência, já o ator de cinema tem sua atuação manipulada por vários tipos de mecanismos (direção, edição, entre outros), ele não desempenha o papel ininterruptamente e sim numa série de sequências isoladas. No cinema o autor deve agir com toda a sua personalidade viva, mas privado da aura, já no teatro a aura de um personagem é inseparável da aura do autor que desempenha este papel. Na medida em que se restringe o papel da aura, o cinema constrói artificialmente, fora do estúdio, a personalidade do ator, o culto do astro, que favorece ao capitalismo dos produtores, sendo assim o interesse principal dos produtores de filmes é o de estimular a atenção das massas para representações ilusórias e espetáculos equívocos. Por isso, o mesmo público que em presença de um filme burlesco reage de maneira progressista viria a acolher o surrealismo com espírito reacionário. Cinema não é apenas um modo pelo qual se apresenta, mas também a maneira de representar o mundo que o rodeia. O cinema enriqueceu a nossa atenção através de métodos que vem esclarecer a análise freudiana (facultava a análise de realidades), portanto o cinema acarretou um aprofundamento da percepção, aí está uma das suas funções-revolucionárias a identidade entre o aspecto artístico da fotografia e o seu uso científico.
Uma das tarefas essenciais da arte é suscitar determinada indagação num tempo ainda não maduro para que se recebesse plena resposta. As extravagâncias e exageros nascem daquilo que constitui, como por exemplo, o dadaísmo que buscava produzir, através da pintura ou da literatura os próprios efeitos que o público hoje solicita do cinema. Os dadaístas se compraziam com manifestações bárbaras, com o aviltamento sistemático da própria matéria de suas obras, ao ponto de privar radicalmente de qualquer aura as produções às quais infligiam o estigma da reprodução. Para uma burguesia o reentrar em si mesmo tornou-se uma escola de comportamento associal, fazendo-se da obra de arte um objeto de escândalo com o intento antes de tudo de chocar a opinião pública.
Enfim, a velha recriminação: as massas procuram a diversão, mas a arte exige concentração. O homem é em sua essência um ser criativo, capaz de reproduzir muitas formas de arte, a tragédia surgiu com os gregos, desapareceu por um longo período, e mais tarde reapareceu sobre a forma de regras. O poema épico, que data da juventude dos povos atuais, desapareceu na Europa pelo fim da renascença. O quadro nasceu na idade média e não é possível prever a sua duração. A arquitetura nunca parou, sua história é mais longa do que qualquer obra de arte, a acolhida pode ser tátil ou visual. No âmbito tátil, a acolhida faz-se menos pela atenção do que pelo hábito. E é esse hábito que, em larga escala determina igualmente a acolhida visual, esta última, consiste muito menos num esforço de atenção do que numa tomada de consciência acessória. O filme corresponde a essa forma de acolhida, se ele deixa em segundo plano o valor de culto da arte, não é apenas porque transforma cada espectador em aficionado, mas porque a atitude deste aficionado não é produto de nenhum esforço de atenção.
A proletarização crescente do homem contemporâneo e a importância cada vez maior das massas constituem dois aspectos do mesmo processo histórico, o fascismo queria organizar as massas sem mexer no regime da propriedade, o resultado é que houve uma estetização da vida política. A essa violência que se faz as massas culminaram num só ponto: a guerra. A estética da guerra, hoje em dia: já que a utilização normal das forças produtivas está paralisada pelo regime da propriedade, o desenvolvimento dos meios técnicos, do ritmo das fontes de energia volta-se para o uso contra a natureza. Verifica-se através da guerra, devido às destruições por ela empreendidas, a sociedade não estava suficientemente madura para fazer da técnica, o seu órgão, a técnica não estava suficientemente evoluída a fim de dominar as forças sociais elementares. Essa é a estetização da política, tal como a prática o fascismo e do comunismo a resposta de politizar a arte.

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